quinta-feira, 5 de agosto de 2021

perder a voz junto ao mar




perco a sua voz no vento
quando deitados nas dunas
entre cardos e lírios         tenho um corpo
difícil de aceitar
sucumbo à mágoa dos defeitos que nascem
do embate de duas imagens que se recusam
a se confundir como céu e água

perco a sua voz no vento
de olhar alheado na diferença
da carne que ferve com os seus carreiros
de sal        reconheço os seus lábios
abertos         uma fúcsia subindo e
descendo no oco da boca
chocando na fraga de marfim
e tudo isso me diz que deixe aproximar
o silêncio ao corpo
as palavras são coisas frágeis
esperam refúgio

a sua voz é levada
junto com a poeira
que embranquece os canaviais e
urde a secura da terra
afogo-me no luxo da sua barriga
lendo o morse dessa criatura
ainda a vir        para no vento
                  um dia 
                                                  perder a sua voz junto ao mar

Sem comentários: