terça-feira, 6 de outubro de 2020

até à morte escreverei em janelas

publicado em Inefável 17 

 

com a ausência da abundância
trato as coisas com delicadeza
um cuidado de rato a lidar
olhos nos olhos                 com o desconhecido
 
os meus irmãos corriam por esses corredores
sempre adiante no eco da pedra
por instinto calcava nesses dias
apenas o azul entre cada branco
e sempre adiante o eco a fazer-se
corrida         azul a azul         mais longínqua
até à abundância de nem um rato
 
e o meu rosto à janela
na caligrafia de dedos e bafos
visionando o mundo tal como hoje
quando sem óculos         uma palavra
e toda a revelação aí contida
efémera         a ti endereçada
e lida quando todo o azul te enovelar
das alturas à pedra 
 
(título retirado de António Lobo Antunes)

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