publicado em Infável 17
emparedaram-me depois o corpo
conheceu a secura pele e osso um farrapo
à dependura papel ao sabor dos ventos
ainda sem ritos e libações hastearam
o meu nome como bandeira
da liberdade individual
eu que da política conheci apenas o vómito
da desconsideração a usura da lei
do homem letra cega à dissemelhança
o vinho do poder inebriou os meus irmãos
viciados no jogo do monopólio
duas crianças a quem nunca se ensinou
a lição da partilha
e fizeram birras para se sentarem
na cadeira abandonada pelo pai
até que a morte essa anarquista
os deitou no mesmo leito
também o meu tio bebeu desse cálice
antecedeu em milénios os visionários
desacreditando o eclesial em favor do laico
mas tão tirano quanto eu na defesa
de uma ideia
a vontade do eu sujeita a de qualquer outro
não dei nenhum passo para a revolução
do sexo ou da cor
e estivessem os meus progenitores ainda por este areal
procriando pelas dunas de Tebas pouco
me fazia a entrega de um cadáver aos cães e aves
eu conservo o único e a memória mais antiga
dos deuses anteriores aos animais verticais
e arrasto para a morte
a
quem a minha língua toca o coração
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