sábado, 15 de agosto de 2020

a vista sobre a planície antes do dilúvio

publicado em inefável 17


eram céus como este que nos cobriam
os passos         que tudo aproximam
como duas bocas mordendo o desejo
nos lábios         a água da água         o coração
deposto rendido ao tempo
livre dos ferros do medo         céus
que enaltecem os campos úberes de colza
as variações em verde das florestas
a tua pele com o cobre de primavera
céus aos borbotões a eriçar os pêlos
dos braços em volta do teu ventre
céus por cardar
num novelo de relâmpagos que ensina
o sentido do comum na separação
do fogo         céus assim dão ao lobo
as feições do cão e à beleza
sublime reduz o homem à ideia
da moral         silenciam-se os pássaros
e nós fazendo coro
de rosto na janela
antes da chegada do dilúvio

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