IV
(beijando-o repetidamente como alguém que à morte escapara
e falando dirige-lhe palavras apetrechadas de asas)
Homem já não roda ao longe
como disse o aedo outrora
o outono está nas dobradiças das nossas vidas
a água do rio passa por ti
lava a tua carne e ossos
e quando enfim a decisão tomar conta
porque já tudo pesa do teu coração
ou do teu cérebro nenhum olhar
reconhecerá o teu rosto deixa que te apraze
a cama o lar a brasa nas cinzas
a minha voz o meu silêncio permite que eu escute
porque sei Homem
no teu peito está sempre um pensamento
senta-te à mesa com o cão aos teus pés
pega na linha que o aedo te deixou livre
e canta a vida que foste e és ainda a ser
e outra coisa te direi e tu põe-na no teu coração
detesto repetir aquilo que já foi contado com clareza
não leves demasiado tempo a solidão e a espera
queimam sem rasto a candeia do amor
Sem comentários:
Enviar um comentário