quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

cobra ou corda

não te basta o lento envenenamento
diário do teu pensamento
gotas que caem da tua clepsidra
e te secam como um bouquet
na despensa         a glória dos dias
passados apodrecidos com método

não te basta o definhamento
mergulhas no aquário
anestesiado e em linha
fazes o que te seduzem e sonhas
com a sexta-feira negra para te igualares
ao odioso vizinho         o invejoso
irmão         afinal         o que há de mais importante que
a imitação da ficção da vida
dos outros         o comentário de séries infinitas
em vestidas repetições         o lamento
valsado do teu ego apenas recebido
para te oferecerem o deles numa troca comercial
                                                                      o potlach do ocidente

dá descanso ao rato e olha
de novo o labirinto         uma linha recta
                                                          não precisas de grandes gestos ou uma corrente
de experiências sempre novas         basta
segurares uma porta com sinceridade
por exemplo         ou a prática da diferenciação
entre uma cobra e uma corda
todos os dias
                   até ao fim da linha

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