sexta-feira, 25 de outubro de 2019

De então a hoje

para a minha esposa e companheira Csilla Jeles Machado da Silva


conheci a passagem do tempo pelo peso de dois anjos
caídos         tomaram abrigo nos meus ombros
as asas descarnadas cobriam-me
os olhos com um véu de ossos
em filigrana         segredavam
à vez no tom próprio da ilusão
sedutora         emudeciam
o amor à vida

vestia-me de melancolia e tinha o passo
de blues bem ritmado ao coração
o horizonte lentamente se fez linha espelhada
no chão ancorada à vista
como um cão e o seu faro agrilhoado à presa

havia os laços de filia tão temporários
quanto uma gripe
alguns conheceram a magia das pedras
posso ainda levantá-los no pensamento
quando como ele surge
inesperado quanto o acontecimento ético
de um abraço há muito adiado

não me são estranhos os meandros
as vastas planícies sem ninguém
percorri terras com mulheres
viajei nos seus corpos que de cansaço
me abandonaram         até aportar

em ti         contigo houve excessos
pesadelos em longas ruas
a loucura em cada cidade
uma violência desperta nas palavras
e uma queda profunda no abismo pessoal

sem temores abracei a disciplina
e pela vontade tirei-me da cova
tal como Krishna ensinou Arjuna

desposámo-nos num outono de ouro
e há a distância ainda entre nós
à noite a aliança moldada pelas tuas
mãos        do tamanho da lua a olho nu
       lembra-me que toda a separação é falsa

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