para a minha esposa e companheira Csilla Jeles Machado da Silva
conheci a passagem do tempo pelo peso de dois anjos
caídos tomaram abrigo nos meus ombros
as asas descarnadas cobriam-me
os olhos com um véu de ossos
em filigrana segredavam
à vez no tom próprio da ilusão
sedutora emudeciam
o amor à vida
vestia-me de melancolia e tinha o passo
de blues bem ritmado ao coração
o horizonte lentamente se fez linha espelhada
no chão ancorada à vista
como um cão e o seu faro agrilhoado à presa
havia os laços de filia tão temporários
quanto uma gripe
alguns conheceram a magia das pedras
posso ainda levantá-los no pensamento
quando como ele surge
inesperado quanto o acontecimento ético
de um abraço há muito adiado
não me são estranhos os meandros
as vastas planícies sem ninguém
percorri terras com mulheres
viajei nos seus corpos que de cansaço
me abandonaram até aportar
em ti contigo houve excessos
pesadelos em longas ruas
a loucura em cada cidade
uma violência desperta nas palavras
e uma queda profunda no abismo pessoal
sem temores abracei a disciplina
e pela vontade tirei-me da cova
tal como Krishna ensinou Arjuna
desposámo-nos num outono de ouro
e há a distância ainda entre nós
à noite a aliança moldada pelas tuas
mãos do tamanho da lua a olho nu
lembra-me que toda a separação é falsa
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