quarta-feira, 8 de março de 2017

Queima das Bruxas





No mercado estão a empilhar paus secos.
Um matagal de sombras é um pobre agasalho. Eu habito
A imagem de cera de mim própria, um corpo de boneca.
A doença começa aqui: sou um alvo para bruxas.
Só o diabo pode comer o diabo para fora.
No mês das folhas rubras eu subo para uma cama de fogo.

É fácil culpar o escuro: a boca de uma porta,
A barriga da cave. Eles explodiram o meu atiçador.
Uma obscura mulher fragmentada tem-me encerrada numa gaiola de papagaio.
Que olhos tão grandes têm os mortos!
Sou íntima com um espírito peludo.
Fumo revoluta da boca deste jarro vazio.

Se eu sou pequena, eu não posso fazer qualquer mal.
Se não andar por aí, nada derrubarei. Assim disse,
Sentada debaixo de tampa de panela, pequena e inerte como um grão de arroz.
Eles estão a erguer as tochas, anel após anel.
Estamos repletas de goma, as minhas pequenas companheiras brancas. Crescemos.
Dói ao início. As línguas vermelhas irão ensinar a verdade.

Mãe de carochas, descerra apenas a tua mão:
Eu voarei pela boca da candeia como uma traça complicada.
Dá-me a minha forma de volta. Estou pronta a construir os dias
Eu copulo com o pó na sombra de uma pedra.
Os meus tornozelos clareiam. A claridade sobe pelas minhas ancas.
Estou perdida, estou perdida, na túnica de toda esta luz.

in Sylvia Plath, Crossing the water - transitional poems

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