Depois de ter encontrado o meu caminho pela cidade, não que
estivesse totalmente perdido, mas sendo ainda novo nela o risco de me
perder e chegar atrasado ao encontro eram maiores que o contrário,
optei por descer por uma das avenidas que enquadram a praça que um
dos escritores deste país lhe dedicou e mal me deparasse com o rio
saberia não estar longe o ponto de encontro, bastava-me passar por
aquela belíssima estátua que encabeçava um extenso tabuleiro sobre
as águas, virar à direita e seguir sempre em frente até cortar a
Rua do Caçador. Aí, num restaurante de esquina encontrar-me-ia com
o meu amigo e poria fim a este inferno, este dilema que me manteve ao
longo deste dia frio, terrivelmente frio, relembro hoje, afastado
dela. Quando enfim cheguei a luz amarela do seu interior convidava-me
a entrar de imediato e não mais permanecer ao relento dessa noite de
inverno. Não estava cheio, umas quantas mesas com casais enamorados
falando baixo e intimamente, uma família de turistas com o cansaço
esboçado no rosto e uns empregados atarefados com nada, ou com a
troca de mensagens por telemóvel e os seus comentários com os
colegas. Uma rapariga tatuada de imediato se prontificou a levar-me a
uma mesa, perguntando-me primeiro se tinha reserva marcada, ao que
respondi negativamente. «Tinha sorte», pela segunda vez naquele
dia, «hoje», disse-me ela, «era uma noite calma», assim parecia.
Conduziu-me até ao fundo do restaurante onde umas mesas singulares
se dispunham aos pares em frente a uma espécie de sofá. Agradou-me
o lugar escolhido e sugerido por ela, tinha uma boa perspectiva da
sala, das suas duas entradas e estava suficientemente resguardado de
olhares dos outros convivas, podendo assim, tranquilamente, discutir
o assunto ao pormenor sem silenciosos julgamentos de orelhas e
olhares. Pouco depois da mesma empregada tatuada me trazer um copo de
vinho vi as cortinas da porta de entrada abrirem-se e o meu amigo
entrar.
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