sábado, 2 de maio de 2015

a decisão (vii)

 Depois de ter encontrado o meu caminho pela cidade, não que estivesse totalmente perdido, mas sendo ainda novo nela o risco de me perder e chegar atrasado ao encontro eram maiores que o contrário, optei por descer por uma das avenidas que enquadram a praça que um dos escritores deste país lhe dedicou e mal me deparasse com o rio saberia não estar longe o ponto de encontro, bastava-me passar por aquela belíssima estátua que encabeçava um extenso tabuleiro sobre as águas, virar à direita e seguir sempre em frente até cortar a Rua do Caçador. Aí, num restaurante de esquina encontrar-me-ia com o meu amigo e poria fim a este inferno, este dilema que me manteve ao longo deste dia frio, terrivelmente frio, relembro hoje, afastado dela. Quando enfim cheguei a luz amarela do seu interior convidava-me a entrar de imediato e não mais permanecer ao relento dessa noite de inverno. Não estava cheio, umas quantas mesas com casais enamorados falando baixo e intimamente, uma família de turistas com o cansaço esboçado no rosto e uns empregados atarefados com nada, ou com a troca de mensagens por telemóvel e os seus comentários com os colegas. Uma rapariga tatuada de imediato se prontificou a levar-me a uma mesa, perguntando-me primeiro se tinha reserva marcada, ao que respondi negativamente. «Tinha sorte», pela segunda vez naquele dia, «hoje», disse-me ela, «era uma noite calma», assim parecia. Conduziu-me até ao fundo do restaurante onde umas mesas singulares se dispunham aos pares em frente a uma espécie de sofá. Agradou-me o lugar escolhido e sugerido por ela, tinha uma boa perspectiva da sala, das suas duas entradas e estava suficientemente resguardado de olhares dos outros convivas, podendo assim, tranquilamente, discutir o assunto ao pormenor sem silenciosos julgamentos de orelhas e olhares. Pouco depois da mesma empregada tatuada me trazer um copo de vinho vi as cortinas da porta de entrada abrirem-se e o meu amigo entrar.

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