A LUA DE MAUD
4
Acabaram-se,
pequena, os arremessos
e saltos, as aquáticas
cambalhotas sozinha na
unidade
sob a colina, sob
o velho, solitário
umbigo
impulsionando
para a lembrança,
o alheio devaneio dobrado
nas trevas,
pressionando um joelho ou
cotovelo
ao longo da parede
escorregadia, esculpindo
o mundo a cada sova – a
corrente
de sangue onfálico
zunindo ao teu redor.
5
A sua cabeça
entra na chave
a qual principia a
sugá-la: ser-se a si mesmo
enclausura-a, condu-la
no tremente
aperto da partida, as
lentas,
agonizadas preensões
formando
os últimos moldes da sua
vida nas trevas.
6
O negro olho
abre-se, a esgotada
pupila com cabelos negros
pára, o chakra
no topo do cérebro
lateja um longo momento na luz do mundo,
e a caminho da luz ela
derrapa para o exterior de rosto,
este ror
de atordoada carne
coalhada de fajuta
celestialidade, brilhando
com o violeta astral
da sobvida. E enquanto
eles cortam
a sua ligação às
trevas
ela morre
um momento, fica azul
como carvão,
os membros tremendo
enquanto as memórias
saem apressadamente. Quando
a penduram
pelos pés, ela engole
ar, grita
a sua primeira canção –
e fica rosa,
os lentos,
palpitantes, implumes
braços
já apertam o vazio.
7
Quando estava frio
na nossa colina e tu
choraste
no berço embalado
por entre as trevas, na
madeira
cortada até à curva de
um sorriso, uma tristeza
mais estranha que a
nossa, tudo isso
fluindo do outro mundo,
Eu costumava vir a ti
e sentar-me a teu lado
e cantar para ti. Tu não
sabias,
e no entanto
lembrar-te-ás,
nas silenciosas zonas
do cérebro, um espectro,
descendente
dos antepassados
fantasmas, cantando
para ti à noite –
não as canções
de luz ditas enroladas
nos brilhantes cabelos dos
anjos,
antes uma bem negra
dissonante florescendo
nessa língua.
Pois quando a lua de Maud
brilhou nessas primeiras
noites,
e o Arqueiro se deitou
sugando o gelado colostro
do cosmos,
no seu berço de
estrelas,
Eu rastejei até
às margens dos rios, os
seus longos farfalhos
de ser e perecer, até
aos pântanos
onde a terra se enlameia
em listras frias, tocando
o mundo
com o flébil lampejo
do início,
e aí aprendi a minha
única canção.
E nos dias
em que te encontrares
órfã,
vazia
de todo o cantante-vento,
de luz,
os pedaços de
amaldiçoado pão da tua língua,
a ti retornem
uma voz,
espectral, chamando-te
irmã!
de tudo que morre.
E depois
abrirás
este livro, mesmo sendo
este o livro de pesadelos.
in Galway Kinnell, The Book of Nightmares, Boston & New York, Houghton Mifflin Company, 1971: 5-8
2 comentários:
tradução tua?
olá jeanne,
sim, esta e as outras que surgem na etiqueta "traduções". porquê, está assimtão má?
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