sexta-feira, 8 de junho de 2012

à espera II

a partir de En Atendant de Anne Teresa de Keersmaeker e de Philipus de Caserta


a fonte está seca de seus ribeiros
e arroios nada mais resta
são sulcos onde os pés aprendem
o andar a leveza a queda
os corpos estão entregues ao pó
tão vivos ainda no declinar do dia

virás por esse caminho
subtilmente quase amorosamente
e por mais se amparem as mãos
deixarão sempre o outro fugir
e nunca os lábios serão resgatados
um segredo os aparta

qua[r] verement cest chose bien certaine
Je nen puis aprocher not ne matinee*

sós aguardamos-te o caminho e eu
passado o último raio de luz
revelando a dança da poeira
vem a gravidade da noite
onde me encontro esgotado
respirando
nu


* porque, na verdade, é coisa bem certa,
Não posso aproximar-me dela nem de noite nem de dia!

(verso retirado de En Atendant de Philipus de Caserta (1370-1420))

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