domingo, 26 de fevereiro de 2012

fonte de mil cadernos






como será limpar o rosto depois de agosto?

em cada sopro iluminando
a cadência do mar
para construir um nome
a fazer esquecer tudo
de desviar os olhos do outro rosto
onde nada repete outro tempo,
entre a espera e o cerco
e o sorriso se abre
na demora que concentra.

a paciência conhece o tempo da espera,
a mais felina indiferença
que é o perdão
sem pressa
e a comoção sustenta
no incómodo do esforço.
a permanência das mãos

é aqui, sempre aqui
até tudo ficar esquecido
as pequenas mãos que ignoram
que as noites sejam tensas,
que aqui perdura
o que um dia será impossível
a criar memória

depois de cada agosto?


A partir de Caderno de Milfontes de Rui Almeida
2012

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