quinta-feira, 13 de outubro de 2011

processo do acaso da felicidade

          O seu desejo era simples. Capturar, por dia, um acaso e, nessa captura parcial, reconhecer a configuração possível e actual do Acaso, tão imperceptível no hábito.
          Acordava e anotava a primeira palavra que lhe ocorresse. Isso todos os dias. Guardava o minúsculo papel meticulosamente num bolso e saía, percorria a cidade encetando a mais banal conversa com quem cruzasse. Era o louco da cidade, assim apelidava quem o visse passar. Mas não lhe fugiam. Uma vez surgida a palavra a meio do diálogo - se tivesse sorte - ou do comum monólogo da vida de cada um - e que estranho lhe parecia pensar o comum do monólogo, logo aí onde nenhuma comunidade se criava -, de imediato todo o rosto se lhe iluminava interrompendo o falatório, levando a mão ao bolso onde a palavra permanecia dobrada entre as plissagens do forro do tecido; e estendia o papel ao outro, oferecendo-a e o acaso.
          Não era um homem triste, embora nem sempre a sua predação desse resultados. Porém, sentia palpável a felicidade, essa, tão rapidamente doada ao outro.

2 comentários:

Anónimo disse...

:)
por acaso abri o teu blog, porque sei sempre que vou encontrar mais alguma coisa que me acrescenta. fiquei mais feliz agora. um beijo muito grande para ti, outro para a Cris.
Ana R.

fernando machado silva disse...

ainda bem que serviu para preencher os vazios entre lisboa e portimão.

beijos nossos para ti e para a maria.