segunda-feira, 27 de junho de 2011

em cinco dias évora-fès-évora fiz (xx)

Demos a volta às muralhas passando pela praça real. Uma ampla praça com o dobro ou o triplo da Praça do Giraldo, plana, luminosa, com uma enorme porta com guardas, mas esta não era a Bab Bou Jeloud. Mais à frente, numa curva à direita e deparámo-nos com a santa porta repleta de gente e autocarros. Um deles, como o jipe do T., tinha enfiado a porta de um carro para dentro, o que provocou um enorme trânsito que nem a polícia conseguia resolver. Como andávamos às mijinhas acabámos por decidir apear-nos ali mesmo, a uma centena de metros da Bab Bou Jeloud. Descemos a rua onde a mini-carrinha táxi tinha parado e demos de caras com a gigantesca porta de mosaicos azuis, pretos e amarelos. Pessoas iam passando com as suas compras e carneiros. Não conseguíamos perceber até então a razão de tantos carneiros, uns atrás dos outros, e nem sabíamos de onde eles vinham, mas que eles apareciam, apareciam. Pensávamos entre nós que seria normal tantos carneiros juntos, sendo no fim de contas fim-de-semana.
Atravessando a porta a vida pululava como costume, o movimento de pessoas era contínuo, a azáfama era geral. A gritaria, a música, os cheiros, as cores, as luzes e as sombras, voltaram a aparecer, apanhando de rompante todos os nossos sentidos. Já não nos sentíamos tão perdidos, começávamos já a ganhar o sentido de orientação, uns mais do que outros. Eu, pelo menos, continuava tão perdido como quando cheguei. Mas a falta de orientação não me surgiu somente ali em Marrocos, é um mal meu esteja onde estiver. Agora também já sabíamos onde queríamos ir, quero dizer, o T. sabia e nós íamos atrás dele. O destino era, portanto, a longa rua dos tapetes e das roupas, das djellaba, camisas, gorros, sapatos, sandálias e demais vestuários. O sol fazia já a sua descida ao encontro do horizonte. As peles morenas começavam a ficar mais e mais douradas, os bronzes martelados que serviriam de tampos de mesas galantes em casas senhoriais e de turistas endinheirados feriam por vezes os olhos, reflectindo os fiapos de luz dando novas matizes às pequenas e apertadas ruelas, aos panos que drapejavam nas janelas e nas bancas. Como tínhamos subido bastante ao redor das muralhas, era tempo de descer e mergulhar mais e mais no labirinto, o que fizemos de imediato.

(cont.)

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