terça-feira, 21 de junho de 2011

em cinco dias évora-fès-évora fiz (xiv)

Quando iam voltando para o hotel a S., o T. e o marroquino passaram pela loja deste e ele falou com o irmão, um tipo entroncado e este sim, com cara de intrujão e de rufia. Se tivesse sido com este talvez tivéssemos pago mais de mil dhirames. É que o gajo chegou a perguntar ao irmão quanto é que nós lhe tínhamos dado para o arranjo e quando o irmão lhe responde ele vira-se para nós para saber se tinha sido o irmão a propor o preço. A S. disse logo que sim e percebeu pelo abanar da cabeça e pelo olhar que se tivesse sido com ele nós estávamos… Bom, desculpas para aqui e desculpas para ali, apertos de mão e palmadinhas nas costas e zuca lá nos encontrámos todos no Grand Hôtel de Fès. O T. e a S. assinaram o que tinham de assinar, recebemos as chaves dos nossos aguardados quartos e camas e lá fomos. A S. de elevador com algumas coisas, porque nós os três não cabíamos todos juntos com a tralha toda, e o T. e eu de escadas que davam voltas e mais voltas e mais voltas que pareciam nunca mais acabar. Chegados ao andar onde ficaríamos combinámos encontrar dali a um bocadinho para irmos jantar a boa comida marroquina. Depois de ter pousado as minhas tralhas fui dar uma espreitadela à casa de banho para ver se, já passadas vinte e quatro horas desde a nossa partida, a minha prisão de ventre tinha recebido amnistia, mas nada feito. Disseram-nos na recepção que as casas de banho tinham sido restauradas, que tinham sido alvo de um upgrade e que upgrade. Tanto a sanita como a banheira tinham sido levantadas do chão pelo menos um degrau, o que fazia com que quando estivesse sentado ficasse quase de bicos de pés a tocar no chão, enquanto a S. ficava com as perninhas a baloiçar para a frente e para trás. Na banheira o mais difícil era tentar não encharcar o chão de água e as toalhas e o lavatório e a sanita e o Papier Hygiénique Amalou cor-de-rosa e reciclado com o Atlas desenhado e depois disso tudo tentar não partir a cabeça nem escorregar nalgum lado, porque para sair dali só quase faltava sentarmos na borda da banheira e saltarmos.
O quarto até era bom, mas tipicamente europeu. Uma cama de casal de madeira maciça cheia de mantas, duas mesas-de-cabeceira com tampo de fórmica a fingir madeira natural (eu cheguei a procurar nas gavetas um Corão como se encontram nos filmes americanos a Bíblia), o chão revestido de alcatifa azul ou verde escura (já não me lembro bem), um grande armário com almofadas e mais mantas e uma janela pequenina que dava para um terraço de um prédio qualquer com aqueles respiradores dos ares condicionados e alcatroados. Pelas paredes brancas de rudes rugas de cal uns fajutos quadros nada interessantes. Tirámos apenas o necessário para a minha mochila e saímos ao encontro do T., mas, como de costume, estava atrasado e por isso, depois de termos tentado perceber como se trancava a porta do quarto, a S. e eu fomos dar uma vista de olhos à sala de estar partilhada por todos os hóspedes daquele andar. Não deu para ver muita coisa às escuras e sem sabermos onde estava o comutador da luz, mas ainda deu para espreitar por uma janela que dava para um jardim, e também porque logo a seguir ouvimos o T. a bater à nossa porta. Descemos pelo minúsculo elevador de grades, entregámos as chaves e perguntámos ao recepcionista se ele conhecia algum restaurante bom e barato, muito barato já que estávamos com cem euros a menos. Claro que ele conhecia, Le Restaurant Zagora, vous tournez à droite, tournez l’hôtel, montez le boulevard et après cinc cent mètres à votre gauche vous êtes là. Aquilo para nós parecia demasiado longe, isto de subir uma avenida inteira não era bem o que desejávamos. Saímos e logo se veria.

(cont.)

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