quarta-feira, 9 de março de 2011

arkaneftá (7)

nada mais se saberá do poeta, agora. o suficiente apenas para vos dizer que a sua voz me inspirou, tocando-me. os dois amantes despediram-se do poeta dizendo: eu sei: quero dizer: eu amo, respirando, sangrando tanto. e o poeta, esse afastou-se virando a todas as esquinas, procurando alguém que passasse a noite com ele, até à aurora de um novo poema. enquanto os dois amantes, olhando-se olhos nas bocas, tentaram dizer alguma coisa, para que nada restasse por cicatrizar. queriam que esta ferida, cravada bem funda nas suas peles, não secasse no verão, que se aproximava, como uma pedra sobre a boca que se prepara para gritar às estátuas e aos seus pássaros, ou o sol que ia despontar, quando procuravam uma pensão que os descansasse, porque a lentidão gritava nos músculos caninos.
o silêncio sobejava-lhes nos olhos. este silêncio que era alto, tão, tão alto - o amor.

(não escrevo sobre os quatro poetas que realmente gostaria de escrever, porque são como que os quatro elementos, mas neste poema falo deste, da sua imagem e, talvez, seja este o último exemplo ao qual não sabemos escutar: o barulho de uma inconcebível existência. por isso, não o descrevo e, de facto, nem sequer dele falei, porque isto é um poema palimpsesto, é tautológico, é para fruir e para cansar, é para ser excessivamente imagístico, para ir contra o que se faz, é para ser o mais egocêntrico e egoísta possível para não o ser, é para ter tempo e para que, os poucos que o irão ler, me ouçam, mas especialmente para ti)