quinta-feira, 31 de março de 2011

arkaneftá (23) - fim

amor, vejo tanta seiva escorrendo dos orifícios e tenho um medo que sobrevoa o futuro.
amor, por vezes desejo a poesia pela mão que vem da lenta loucura, mas então acordo e encosto-me a ti.
amor, um dia tocaram-me nos centros doces e abrasado vi a árvore astral defronte a um lago, com as bagas no escuro, e vi-te, nos espelhos inocentes, a levares-me na tua mão como uma criança e a ser amado.
amor, abrimos as portas por um nexo da fala pequena com a fala que se inspira de tudo - o teu espaço luminoso - e transformamo-nos.
amor, todos os dias de manhã vejo-te alargando os braços, apanhando a claridade, onde pelo ar enflorado por cometas sobre as montanhas e a sua água, abençoarás o dia que iremos ter.
amor, porque eu sou uma abertura, alguém com os dedos na cabeça dando voltas à criança, com as mãos embriagadas, porque a criança atravessa tudo e já toca no centro de si própria, do mais profundo até ao mais leve na obscuridade deste poema e eu sei tudo e esqueço.
amor, com este poema assim escrito, choro e penso, porque Arkaneftá, a que chamo, por enquanto, um espelho em frente de um espelho, é uma imagem num único nó do corpo.
amor, trabalho um nome, o meu nome, com a dor do sangue.
amor, nunca seremos os amantes para serem mortos, nunca fui esta criança, senão neste poema (o poeta será sempre uma criança e a criança um poeta, e os amantes assassinados pelos homens), se morremos é por exemplo.
amor, não peço que o espaço à minha volta se engrandeça, eu morro do que nasci na boca para o potente e o suave do mundo.
amor, poema do começo a árduo sopro.

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