segunda-feira, 14 de março de 2011

arkaneftá (11)

os amantes estão, um por trás do outro, com uma mão atrás da outra e o céu furado de estrelas, regressando aos seus olhos, renovadamente vivo a toda a altura e a toda a largura que se alcança com o olhar, vai esmorecendo, porque basta-nos (basta-me) o nome para lidar com o lento acordar das vozes submersas: uma treva - e como eu desesperadamente tento, com estas palavras imperfeitas, esse acordar dentro do poema, em que minha mão se desenlace de ritmos e cadências, e se espante com uma ferida nova, que nunca saberei seu nome glabro, ardente, nome da voz que calaria tudo como um sopro lento na folha, um gesto digno de uma revolta dos mortos, porque são outros mortos ainda que aqui surgem, escondidos das aranhas, no fundo da minha cabeça apavorada e têm medo de nascerem belos.

oh sim, os vivos e os mortos que ainda não tinham entrado no mundo minúsculo, mas de gigantesca falência perante a História, sentem os seus minúsculos sistemas e ossos a tremer, oh sim, uma névoa sensível levanta-se do fundo da terra e uma, oh, uma catástrofe de gente jovem e morta, espera o seu tempo, o tempo cronometrado por uma clepsidra de lágrimas, que engrandeça, como os outros animais, as palavras e os gestos de confusão, do amor posterior, a respirar tão depressa e a andar tanto e, oh a correr de energia rápida... e os amantes regressando: à magia e aos segredos, comendo uvas negras.

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