domingo, 13 de março de 2011

arkaneftá (10)

e erguendo-se o machamante da poluta cama, retirou da jarra de vidro os malmequeres e geribérias que lá dormiam, enrosca-se numa posição fetal na cama, com algumas flores germinando no seu ânus e outras na mão e disse:
fogo
vestido
cidade
areia.
a fêmamante sorrindo, fotografou-o, enquanto através da janela fulminada pelas luzes, alguém ia gritando na noite sensível - louco
louco.

seria o poeta em delírio, virando as esquinas? seria o sentimento atroz das rosas enoveladas? seria o amor que os amantes vergavam no sono querido e desejado, mas que por vezes tarda? quando se põem no jogo da vigília, subestimando a maravilha fatal da nossa idade, surpreendem-se, como dois peixes numa rede tentando-se soltar, quando o amor arrebata os músculos e os olhos cansam, enquanto pela janela, trespassa o som vivo de toda uma cidade. e como uma figueira que lança os seus figos verdes, os amantes ouvem a cidade, presos pela boca, violentamente. a cidade mete medo, as caras são todas estranhas, rostos brancos como de mortos, gestos bruscos que amadureciam os seus silêncios, enquanto os seus poetas e amantes, arrastados do céu da boca do mundo para este que chora de liberdades, se esgotam.
- liberdade, amor, poesia, são palavras pronunciadas de preferência a todos os segundos, mas são com medo de pousar no silêncio.

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