segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

eis o futuro, aí, onde

eis o futuro, aí, onde
as nossas pernas se juntam
debaixo da mesa. a descoberto
os gestos vagos de nada saber
senão a queda constante, já
no nome da nossa terra: ocidente.
baralhámos as preocupações, as cartas
sobre a mesa, onde rodelas de água
das calotes dos nossos copos vogavam
ao encontro das cinzas mal batidas
dos nossos cigarros, uma e outra vez
acesos. no vaivém da conversa
cheia de exemplos, da pobre educação
– crianças abandonando o pensamento
como uma peça a somar ao paraíso perdido –
e um peculiar juízo sobre a história d’arte – as
grandes obras são-no pela morte que as fundam
– prescrevemos o porvir de um filho,
malgrado a beleza das tuas lágrimas
na viagem de volta, as planícies e montes
do alentejo desta precoce primavera,
o terrível amor e amizade de amigos.
tudo isso me assusta, porque ele está
sempre a vir, vazio de esperança e
com o homem garrotando o homem
… mas as pernas tocando-se
debaixo da mesa ou na cama
entrançadas…

1 comentário:

cristina disse...

segundo a tal teoria da forma temos tendência em fechar as formas abertas ou incompletas... permite-nos compreendê-las melhor, de modo mais simples, será assim com o futuro? fechamo-lo, acaba-se o mistério, dormimos mais descansados, repetindo na nossa cabeça, vezes sem conta, aquela expressão que tanto nos consola: "é assim, que é que se há-de fazer?"