quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

poema antigo (revisão)

o riso explode num esquálido botão
de rosa de puro vermelho

um riso uma flama
revoluteando no veludo
nado dos lábios rubicundos
que tremem retendo o riso

e os lábios entreabrem-se
inocentemente bruscos
mostrando a língua
com uma réstia de saliva
lembrando o orvalho
o silencioso inverno de um beijo

(a chuva levada
batendo levada
pelo vento levada
na janela
e o que isso interessa)

volta o riso
de uma boca a outra
o ricto do rosto contendo-se
não será antes uma flor
prestes a explodir

oh e a tensão ígnea do músculo
o mordiscar do lábio inferior escravizado
queimando-se de ebriedade
e as mãos sobre a mesa manchada
onde, porque não, outro riso
e o tamborilar de dedos irónicos
tocando-se erguendo-se caindo
para não pensar no lábio
ou no músculo
de plasticidade grotesca

oh e de novo a flor na boca
e quatro olhos espelhando-se
ou pela janela desfocando-se
(a solene chuva ainda)
unindo rugas dos estreitos dos olhos
às meias-luas das bocas
e tu ris e eu rio
e um soluço para a boca do mundo

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