terça-feira, 26 de outubro de 2010

Parliament Hill Fields




Nesta glabra colina o ano novo afia a sua ponta.
Sem rosto e pálido como porcelana
O rotundo céu permanece despreocupado.
A tua ausência é incompiscuosa;
Ninguém adivinha o que me falta.

As gaivotas desfiaram o leito de lama do rio até
Esta crista de relva. Interior, argumentaram eles,
Assentando e agitando como um papel soprado
Ou as mãos de um inválido. O lívido
Sol consegue acometer tais reflexos estanhados

Vindos dos lagos ligados franzindo-me o olhar
Protegido; a cidade derrete-se como açúcar.
Um crocodilo de rapariguinhas
Enleando e parando, mal juntas, em uniformes azuis,
Abre-se para me engolir. Eu sou uma pedra, um pau,

Uma criança deixa cair uma pregadeira de plástico púrpura;
Nenhuma delas dá conta disso.
As suas intrigas escoam-se num arrasto agudo de cascalho.
Agora o silêncio oferece-se atrás do silêncio.
Como um penso o vento pára a minha respiração.

Para o sul, depois de Kentish Town, uma nódoa cinza
Desfralda-se sobre telhado e árvore.
Poderia ser um campo de neve ou um banco de nuvens.
Suponho que seja de todo inútil pensar em ti.
Já o teu agarrar de boneca se solta.

Mesmo ao meio-dia, o túmulo protege a sua negra sombra:
Conheces-me menos constante,
Fantasma de uma folha, fantasma de uma ave.
Circundo as retorcidas árvores. Sou demasiado feliz.
Esta ninhada de ciprestes de negros

Ramos, enraizados nos seus prejuízos amontoados.
O teu choro desvanece-se como o grito de uma melga.
Perco-te de vista na tua cega busca,
Enquanto esplandece a erva da urze e os rodopiantes riachos
Desenrolam-se e gastam-se. A minha cabeça corre com eles,

Empoçando com pegadas de calcanhar, atrapalhando seixos e caules.
O dia esvazia as suas imagens
Como uma caneca ou um quarto. A curva da lua alveja-se,
Ténue como uma crosta costurando uma cicatriz.
Agora, na parede do berçário,

As plantas azuis da noite, a pequena colina de pálido azul
Na fotografia de aniversário da tua irmã começam a brilhar.
Os pompons laranja, o papiro egípcio
Iluminam-se. Cada azul arbusto
De lapina folha por trás do vidro
Exala uma nuvem índigo,

Uma espécie de balão de celofane.
As velhas escórias, as antigas dificuldades tomam-me por mulher.
Na rascunhada meia-luz as gaivotas endurecem a sua fria vigília;
Eu entro na casa iluminada.

in Crossing the water - transitional poems

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