"Quem tem a bengala de Artaud? Quando me perguntam por um símbolo supremo ou imagem da loucura, penso sempre nessa bengala a que o dono mandou pôr uma ponteira de ferro com que batia violentamente nos paralelepípedos de Paris para a fazer saltar chispas. A bengala estava cheia de nós e tinha duzentos milhões de filamentos e entalhes de signos mágicos. E Artaud fazia saltar chispas porque dizia que a bengala tinha o signo mágico do raio no nono nó e que o número nove foi sempre o algarismo da destruição através do fogo. Artaud perdeu essa bengala (que lhe ofereceu René Thomas) na sua estranha viagem à Irlanda, perdeu-a depois de uma zaragata em frente do Jesuit College, de Dublin. Quem tem o Santo Graal da loucura? Quem é que ficou com a bengala de Artaud? Gostava de escrever um romance onde alguém viaja até Dublin para investigar o paradeiro da bengala de Artaud. Quem tem, meus senhores, essa bengala que é o eixo central da loucura no Ocidente?"
Enrique Vila-Matas, Diário Volúvel, Lisboa, trad. Jorge Fallorca, Teorema, 2010: 104.
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