quarta-feira, 30 de junho de 2010

proposta

nunca fui de forçar nada em alguém - aliás, esse foi sempre um dos tópicos das minhas discussões políticas - por isso apenas posso fazer uma proposta.
peguemos na hipótese das "zonas autónomas temporárias" de hakim bey, ou seja, a produção de uma situação única conjugando os pensamentos políticos, éticos e estéticos, visando a liberdade, a crítica e o impulso de mudança, sem a possibilidade de ser recolhido pelos mídia, sem ser manipulado por esse órgão de poder e banalização do acontecimento.
sabemos, aos poucos e poucos, que a manifestação contra ou a favor de qualquer problema já pouco consegue contra o "poder" - invisível e que afinal somos todos nós e não, por excelência, a figura do estado, do governo; ou, pelas palavras de cesariny e lisboa, "todos sem excepção têm a máxima culpa". pessoalmente, não me faz sentido pedir a legalização de manifestações; o meu corpo e a minha voz são já a manifestação de qualquer coisa, de mim, de uma certa subjectividade (construída ou não por forças do poder e do saber - família, escola, hospital, de acordo com foucault), que não deixa de ser o signo de uma posição política, ética, estética - dir-me-ão, claro, que pelo facto de ter um b.i., um n.i.f., um passaporte, tudo isso é desde logo a legalização da minha vida manifesta; nesse caso, assumindo essa legalização, essa prova perante a lei, da lei encarnada, que se faça um uso inusitado do mais privado (a nossa fome, o nosso mal-estar de vida, o nosso desgosto, nojo) tornando-o público, não pelo agrupamento, o ajuntamento de várias pessoas como uma manifestação, que imediatamente é tida como movimento de massa, indistinguindo cada um e mais facilmente quebrado, manietado, forçado pelas forças policiais, pelo uso bruto da sua força legal, mas, isoladamente, inesperadamente, numa praça pública - bater num rosto que nos olha, nesse único, só, separado de qualquer grupo, no espaço democrático, é mais difícil que arremessar contra a massa - num hall de um banco, no espaço público, manifestar, dar corpo, sem se permitir ser captado por qualquer objecto mediático (telemóvel, câmera de filmar, etc.). o importante é, então, tocar, tocar da forma mais crua este e aquele, os que não conhecemos, que não nos conhecem, e deixar-lhes qualquer coisa que os incomoda e os obriga a pensar a sua condição, para, mais tarde, eles próprios se manifestarem e pedirem o que é de direito, ou seja, uma vida digna de ser vivida.

5 comentários:

T disse...

Tenho tentado a tua estratégia no meu blog e deixa-me dizer-te que não parece dar grande resultado.

fernando machado silva disse...

eu sei, por aqui também não dá nada, mas não deixo de tentar. aliás, tu é que me deste este conselho um dia, aqui: continuar e não desistir.

T disse...

Foda-se. Isto é a tal poetic irony de que ouço tanto falar: derrotado pelas minhas próprias palavras.

miguel disse...

tentar e tentar continuamente levará ao sucesso garantido, pois criará padrões, que tenderão a reproduzir-se e a perpetuar-se.
só não sei quanto tempo levará a atingir o estágio de padrão, se cem segundos, se cem séculos...
mas não tentar é não ser

fernando machado silva disse...

nem mais, miguel, nem mais.

saudades