quinta-feira, 17 de junho de 2010

ocaso egoísta

prevê-se a tempestade, sob o teu olhar,
o horizonte escurece, o lápis
delineia o risco, tímido, o dia
vai caindo. atravessamos esta ruína
de ponte, ao fundo as poucas dunas
de árida vegetação, cardos
estornos, narcisos, cordeirinhos.
escolhemos a margem sossegada
da ria, longe dos viveiros,
esparso cemitério, vivo verso
de camilo pessanha.
por pouco seríamos índios da meia-praia,
pés descalços pelo lodo, perseguindo,
cada um pelo seu lado,
o cão, esta espécie de filho, louco
infatigável nas aventuras
predadoras, sem consequências,
nenhuma gaivota ou garça
se deixa apanhar por quatro patas.
pode vir a tempestade, a tormenta,
o fim do mundo, tudo isso
pouco interessa. a felicidade
é egoísta.

1 comentário:

cristina disse...

mais bonito que este poema, mas só um bocadinho de nada mais bonito apenas o "ocaso"-ele próprio, porque lá estávamos os três, e porque a tempestade acabou por não chegar...