sexta-feira, 21 de maio de 2010

insónia vi

i

quando há poesia
não é decerto para todos
sabes isso a cada dia. levaste
anos a repetir a frase
de um desconhecido
julgando poder participar
num qualquer mistério
que não te é natural.
nenhum poeta na verdade te fez
bem e a língua é uma doença
das tuas insónias.

ii
língua e poesia, coisas
tão tristes te fazem sentir
tão pobre o teu mundo
nada a dizer
nenhum pensamento
nenhuma voz
e tremes de medo, vês
o cigarro a arder, procuras
as peles para roer, caneta apoiada
no calo do teu maior engano
nunca chegarás a desaparecer
nisso que tu escreves, escreve-se
do lado do silêncio, dizes-te agora
o lado de todas as palavras
peneiras o ouro na margem
errada, colhes a ganga
desperdício de tantos anos

o que foram esses poemas escritos?

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