Mulher grávida/Gozo/A morte ameaça/Essência e existência/Sangue/Regras/Regras e sonhos/Água/ Angústia/O espelho do real/Feto/Expulsar tudo o que resta de mim/A mulher plena/Alimentar/O leite/A cabeça do recém-nascido entre as minhas pernas como o pénis do meu pai/Nove meses e ela tornou-se dessexualizada falando de novo a linguagem do homem no lugar da língua da mulher/A criança é nado-morta/Guardei os meus fantasmas e os meus fálos (phallus) no meu corpo.
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Escreve e cala-te.
Obrigaram-nos a escrever. A escrita é feminina, a palavra é feminina.
Eles fizeram a nossa língua, mas arrancaram-nos o clítoris.
Durante 1977 anos, fica-se(ámos) sentada(as) as pernas um pouco afastadas com um France-Soir sobre os joelhos descascando batatas.
Roubaram-nos as nossas facas para nos porem um lápis nas mãos.
Observo os primeiros morangos da primavera e quero comer.
Punem-nos como os pais - como o meu pai que me privou da refeição.
- Escrever, vai escrever, escreve e cala-te.
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Telefonei-lhe:
- Amo-te biologicamente.
Resposta:
- Escreve que me amas.
Pousar o auscultador. Silêncio.
O meu corpo meu sexo meu espaço interior, eu não quero enfartar as palavras como se enfartam os mortos com algodão no cú, pois eles precisam de cagar ainda os mortos e preservar um corpo, o que importa a alma.
Transcrevo o meu silêncio de mulher cega.
É-me proibido comer ou comprar alimentos.
Roubo um rabanete negro como uma bosta.
Procuro o meu corpo, gestos.
Não sei mais cozinhar lentilhas ou passar a roupa.
É verdade que depois de dez anos eu não fiz mais nada senão escrever.
Eu não vi o sol, escrevi a palavra "sol".
Alguns signos, um anúncio de falecimento.
Escrever é escavar o seu próprio túmulo.
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É melhor reconhecer que se entretém no M.L.F.
Desceu-se dos grandes hotéis como os P.-D.G. americanos.
Bebeu-se champanhe, comeu-se salmão e invadiu-se o mundo com as nossas palavras de mulheres.
Depois de uma emissão de rádio ou de televisão, fui drogar-me no hotel, derrota, sem órgãos.
O meu útero foi esvaziado. Reclamámos tanto pelo direito de abortar cantando.
Um livro escrito é um corpo ferido.
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Depois de dez anos escrevo, as palavras agem sobre mim e eu não sei agir sobre a palavra.
Se Aragon tivesses escrito os poemas para a EMMA,
teria sido mais fácil. Tinha escutado o homem.
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Apenas eu quem pode ler os meus livros.
(continua)
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