sábado, 29 de maio de 2010

d. joão volta da guerra

um acto

depois um outro acto

uma acção num espaço a ser ocupado

de som e lux(úria)

leve

gesto


livre


constrito


constato que é belo ver

o gelo

rasando a pele

enrugando quando arquejam

as palavras

presas na garganta

grão grão

entope sufoca

a face frente à face

de olhos fechados

engolindo em seco


11-3-5-8 da noite

a menina dos olhos presa na rua

passa carro passa e pesa a espera

não tardo

não tarda

desculpa a demora

a hora lusco-fusco

eu

perdendo tempo

tu

inquieta esperando

com raiva tensa entrando com

a luz e o pó a brilhar pela janela


e a angústia e

podes pensar a angústia não anda a pé

não fala

fica em casa

rebola na cama

num jogo de cabra cega

grão grão

entupo sufoco

não tardo

não tardo

fechando o hiato

abrindo a porta

num gesto pesado com a desculpa por cima

eu entro

a cara no escuro do quarto

e um riso frágil quase a quebrar-se

pouco a pouco a decair

e o passo estaca

entro não não entro

a decisão

a mão o punho fraco

ficou tudo lá guardado no nervoso

repara

e tu olhas

o tempo passa

e olhas

sentas-te na cama

e olhas ainda

não há nada de falso

nem na cara nem no corpo

o estômago não intacto

e olhas uma vez mais

……………………………….

……………………………….

(os teus olhos afogam

qualquer um)

e desvias o olhar triste

uma tortura

dor debaixo das unhas de roer as peles

um pouco porcas as unhas

não respondes

também não te peço tanto

deixa-me estalar-te as costas

pôr uma mão no mole das coxas como costume

esticar-te as rugas que vão dos olhos à boca

o que nos afastou foi um entreacto

um pano desliza desliza

é o lençol cobrindo-te

e afinal já dormias

fecho a porta suavemente

contorno-te como um gato esperto

num telhado quebradiço observando outro gato

um…………dois…………três

macaquinho do chinês

vi-te

Sem comentários: