vejo-te aí sentada sobre o banco
mãos na mesa abrindo ruas
entre o pó acumulado de tempo
nenhum ocupado. o ócio vagueia-te
os olhos e as pequenas coisas
duram a eternidade
dos desejos adiados de tantas listas.
há sempre tanto para fazer
tantas maneiras de arrumar
gavetas, ordenar a roupa
as estantes, talvez por engano
a vida se tenha misturado
e escondido entre os recortes
para colagens, as cuecas, as meias
as camisolas que decides vestir
qualquer dia e nesse qualquer
dia, afinal, dar a quem
precisa. vejo-te aí sentada
sobre a cama indecisa
e desfeita nas brincadeiras
caninas, agora a sorrir
já ao fim do dia
tão longo e tão curto
não foi sequer um dia
mas qualquer coisa que passou
qualquer dia pequena coisa
para a eternidade que passa
por ti. relembras aquela criança
que te falaram, ligeiramente
diferente das outras, mais lenta
a pensar, a fazer as coisas,
que simplesmente faz
as coisas de maneira diferente
e que é a vergonha dos pais
mas que se esforça e é sempre
o primeiro a chegar às aulas
sozinho na rua a passo rápido
e já o sorriso se foi
juntar à eternidade. vejo-te
deitada na cama e abraço-te
e envolvo-te enquanto luto
à eternidade e mais um dia
3 comentários:
às vezes as pessoas dizem sobre determinada coisa na sua vida que "só Deus sabe...", algumas pessoas que dizem isso nem sequer acreditam Nele, outras dizem "ninguém pode imaginar" ou "só eu sei"... perante este poema, querido Benjamim, se eu acreditasse em Deus, diria que nem Ele sabe tão bem quanto tu, mas como se calhar não acredito, talvez possas sê-Lo tu... para mim
nunca serei um deus para ninguém, mas anjo da guarda e lascivo demónio serei-o sempre para ti, meu amor
Enviar um comentário