escrevo água e ela não
escorre de letra a letra
não inunda a página
e estou acordado há horas
mergulhado aqui. seco
os pulmões, inspiro e expiro
o fumo, à espera
à procura de tantas palavras
que não saem, não vêm
de longe ou da tua boca
e estão sempre aí,
todavia, à espreita.
há mistério suficiente
em estar vivo
enquanto a terra mostra os seus dentes
este afogado inverno
rouba todos os sorrisos.
a minha língua partilha
este lugar comum
perduro aí, sei a minha morada
à sombra do desejo.
sei que toda a língua é poética
como as nossas enroladas
uma na outra
mas cada palavra minha
em cada poema
não me enrola a língua
nem te deixa a cona húmida
não te dá um filho.
nada aqui se revela
a criança perdeu-se pelo caminho.
3 comentários:
Houve pá, isto está muito muito muito bom.
ouve lá, isso não é, por acaso, da palavra cona e do teu movimento com o sacana, hã?
Sou egocêntrico mas não tanto.
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