segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

último quarteto





o tempo presente e o tempo passado
apontam para um só fim, sempre presente

só posso dizer, estivemos ali: mas não sei dizer onde.
distraídos da distracção pela distracção
e abandono de todas as posses,
e tudo é sempre agora. as palavras contraem-se,
são mudadas, destruídas, restauradas, ou onde estavam
a marcar o ritmo na sua dança
com palavras e sentidos. a poesia não importa.

oh escuro escuro escuro. todos vão para o escuro
algo que disse antes. vou dizê-lo de novo.
o arrepio sobe dos pés até aos joelhos,
apesar disso gostamos de pensar
aqui ou acolá não importa
não percebo muito de deuses; mas penso que o rio
o bramido do mar
onde está o fim deles, os pescadores navegam
parece, à medida que envelhecemos,
as pessoas mudam e sorriem: mas a agonia fica.

há uma voz que entoa (embora não ao ouvido
das mulheres que viram os filhos ou maridos
a biografia pelos vincos das palmas da mão
do passado e também do futuro.

se viesses até aqui,
o pó em suspensão no ar
na hora incerta antes do amanhecer
sem resistir, pelo vento da alvorada citadina
assim encontro palavras que nunca pensei dizer
se penso, de novo, neste lugar,

quem planeou o tormento? o amor.
de momentos sem tempo. assim, enquanto a luz se extingue
e o fogo e a rosa forem um.


a partir de Quatro quartetos de T.S. Eliot

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