sexta-feira, 2 de outubro de 2009

geografia de um rosto

dessa longa selva ou flor-
esta, savana, deserto
de gelo, estende-se para sul
uma planície que se vai
adunando ao longo
do tempo. ergue-se a meio
um filão, montanha
dura e mole onde duas
cavernas se comunicam
até se encontrarem
na polpa desse mundo
com o seu próprio e invertido
céu – o céu esconde-se
perante certos esplendores.
descendo as ribanceiras,
onde se descobrem
por vezes, óleos únicos,
vislumbram-se dois lagos
um de cada lado da ladeira –
estas águas sem idade
quando se espelham noutras
fazem abismos abismar-se.
em cima desses mares oclusos
levantam-se bambus contra o vento
e junto à montanha e à planície
um denso relvado protegendo
a arriba norte enquanto o sul
se abriga com montes. toda
esta terra se vai marcando
durante os seus percursos
no espaço, sendo traçada
por devastações afectuosas
sismos, maremotos, que tanto
podem erguer como decair
esse rifte polposo que oculta o céu,
aonde muitas outras terras
procuram trocar os seus mistérios.
passando pelas profundezas
somos conduzidos a um penedo
de onde se vislumbra outro
mundo, outra terra. mas para
qualquer um desses, quer
o de cima, quer o de baixo,
nenhum mapa é suficiente.

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