sábado, 24 de janeiro de 2009

poema em gancho

és o meu poema
quando nos matarmos no sexo
e a morte a levar-nos para sempre aos dois
ao mesmo tempo trespassados pela faca do amor
do teu corpo pelo meu e do meu pelo teu corpo

é descrevermos a mesma rota
havemos de viver os dois um grande impasse
só há mistério
e podes enlouquecer
e eu conto e cansa-me o que conto
cola-se o coração à nódoa

quanto basta
amor quanto basta à vida
e a ternura não sabe
o que é loucura até morrer
quando com a minha se toca

com seu pé chega ao sopé
quanto é a ânsia?
mar velho mar quanto é o estar?
que as palavras não contém

temos a vida a perder
o que temos
mata e mata em mim o teu e o meu amor
à luz da lua
só a razão pode fazer de nós
pode fazer-nos em pó
consente também o que sintas
num enleio suave a meio
só o amor falso conduz à mentira de tudo
porque te amo e amo o nosso fim
e caio morto inconsciente

partiremos os dois a nossa estrada é só uma
os teus lábios e os meus a tocarem nos teus
tu és o meu mundo o mundo inteiro
um dia parto sem ti e morrerei

selar os meus lábios nos teus
agora não estás
e Eros morre desmaiado na margem do ribeiro onde se lava

quero a morte quando for morte
para que foi tanto cansaço
o que a vida nos dá
há tanto tempo que estou aqui

até ao fim do mundo
noite, vem noite sobre mim sobre nós
não quero mais
amor a morte não
num destino muito fino
espera esquece-me não sei
dá ao perfume da rosa
o destino, a rainha
amante, escrevo debruçado sobre ti
no teu sexo escrevo a folha, o norte
ensinar-me a amar-te
no meio do chão no meio da terra
e na vida nada se soube tudo se perdeu

quero morrer no dia certo
fernando pessoa
acontece fernando no entanto


senhora parto eu tão triste
no céu espero obedecer de deus a devida conduta
só o beijo diz a nossa verdade as nossas palavras

somos os dois mortos ao mesmo tempo
só o amor e os teus lábios
e amamo-nos
mais nada mais ninguém
tu és o meu nome o meu fim
acabo e digo.


2009
A partir de Poemas Digitais de António Gancho

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