domingo, 14 de dezembro de 2008

graças de fins de outubro

Dás graças por algumas coisas. Poucas, sim, mas que te são próximas e não se medem essas coisas tão próximas a ti, tão juntas que dás graças por elas se encontrarem perante ti, no teu corpo frente ao espelho. Dás graças por elas e não te tornaste mais ou menos religioso ou místico. São os teus pessoalíssimos bons-dias ou boas-noites. Nem sempre te ris e são graças e ficas reconhecido por isso ou reconheces-te nisso, nelas que aí estão. Não lhes dás nomes porque elas são tu mesmo e nenhum nome lhes serve, a essas coisas, tal como o teu também não porque é de empréstimo, colado a ti, tantos por aí há que partilham o teu nome que chamarem-te pelo nome que te deram quase se deve à sorte por seres tu que lá se encontra no meio de tantos com o teu nome. E contudo dás graças igualmente por ele quando ela o diz e por ela dizê-lo, porque então, dizes a ti mesmo, então as graças foram atendidas na sua voz arranhada pelo fumo como um outro possível e pessoalíssimo bom-dia ou boa-noite.
Não são muitas as graças que dás e na verdade nem sempre as dás tantas vezes como gostarias. Não é de ânimo leve que se agradecem certezas que te são estranhas, que são mudas, não respondem, apenas se mostram, essas coisas agraciadas, quando se mostram, quando nem sequer as esperas. E na verdade nem são coisas mas uma só que se enche delas, que não te oferta nada, que se dá da única forma de ser dela mesma. Não é o que é mas o que vai sendo, em ti e nas grandes e pequenas coisas, nas tuas rugas, por exemplo, os crescentes pêlos brancos na tua barba e dizes, estou vivo, ainda, aqui, seja lá o que isso for, estás, és, ainda e dás graças a ela que nada diz e a ela que diz.

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