Portanto, estou em Évora há doze anos, tenho quase nenhum amigo, quer da margem e muito menos do centro, e os que consigo contar raramente nos falamos. Estou só e apaixonado pela minha companheira e é quanto baste para continuar um pouco mais.
Cresci com um gravíssimo problema, pelo menos assim me parece, de várias expressões: 1) não tenho um olhar de auto-crítica para além da miopia, logo não sei avaliar os meus textos; 2) plasmo rapidamente o estilo dos autores que mais me tocam (essas fases agonísticas e outras de Harold Bloom passam-me ao lado, estou constantemente com o vírus da gripe) e, o mais grave, havendo vezes em que está mais adormecido e outras não, daí criar este caderno virtual com o título que encabeça, 3) desde que comecei a ler e a escrever que sonho com essas biografias das introduções dos livros, que desejo entrar na história da literatura - mania das grandezas, ou o nome clínico que dão a isso e que agora não me ocorre, ah, megalomania - mas apenas me lêem os próximos e chegados, companheira, um ou outro membro da família e, como já disse, pouquíssimos amigos. Como sei que isso é impossível, entrar na história da literatura, muito mais agora do que antes - como muitos, sinto que cheguei tarde demais - umas vezes conformo-me outras deprimo-me. Sei que não prestam, os meus poemas, textos, contos, pequenos ensaios. Há poetas sem qualidades, é verdade, mas mesmo esses ainda se podem adjectivar de qualquer coisa, eu não - exemplo disso foi o juízo dos júris dos prémio Agustina Bessa-Luís e Teorema/FNAC. Nas margens habito as suas orlas. Sendo eu um devir, estou já no devir-imperceptível sem ter passado pelos outros teorizados por Deleuze e Guattari. Por isto e pelo que vem, peço emprestada a voz de António Gancho:
Donne moi ma chance
benjamim machado
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