domingo, 30 de novembro de 2008

apresentação

Talvez - antes mesmo de começar e introduzir os meus textos e continuar no anonimato - devêsse explicar a razão deste título. Donne moi ma chance (dêem-me uma hipótese, ou dêem-me a minha chance ou a vez, ouçam-me, leiam-me) pode ser encontrado, tal como eu encontrei, na epígrafe de um livro de poemas (o único) de António Gancho, Ar da manhã. Nessa altura, o da edição desse livro, António Gancho era - e continua a ser para muitos - um desconhecido. Fizeram-no chegar às mãos de Herberto Helder - via Álvaro Lapa (já nessa altura, anos 60-70, era bom ter os amigos certos, mesmo se fossem os da margem, porque mesmo as margens afastadas do centro (dos cânones, portanto) têm os seus centros, há o cânone dos marginais e marginalizados e cada vez mais assim é) - na altura em que preparava o Eloi Lelia Doura, onde lá pode ser lido. Depois acho que houve uma leitura pública, no antigo Monumental ou outro qualquer cinema, ponto de encontro de margens e centros e etc., e mais tarde a edição do dito livro, Ar da Manhã, e de uma novela, As Diopterias de Elisa, passada em Évora, onde moro faz para o próximo novembro, o de 2009, 12 anos. Entretanto, o senhor António Gancho já não morava em Évora desde os seus 18 ou 20 anos - há alguns aspectos que me escapam - mas em hospitais psiquiátricos, onde acabou por morrer, depois da sua chance, uma vez mais no anonimato de 2006. Em Évora ninguém, ou quase ninguém, ouviu falar dele, nem uma lembrança, à excepção de leituras ocasionais de poemas dele na Casa dos Bonecos por alturas, ou baixuras, da sua morte. Por mim, sempre que pego num livro dele atendo ao seu pedido, a ele e a muitos outros.
Portanto, estou em Évora há doze anos, tenho quase nenhum amigo, quer da margem e muito menos do centro, e os que consigo contar raramente nos falamos. Estou só e apaixonado pela minha companheira e é quanto baste para continuar um pouco mais.
Cresci com um gravíssimo problema, pelo menos assim me parece, de várias expressões: 1) não tenho um olhar de auto-crítica para além da miopia, logo não sei avaliar os meus textos; 2) plasmo rapidamente o estilo dos autores que mais me tocam (essas fases agonísticas e outras de Harold Bloom passam-me ao lado, estou constantemente com o vírus da gripe) e, o mais grave, havendo vezes em que está mais adormecido e outras não, daí criar este caderno virtual com o título que encabeça, 3) desde que comecei a ler e a escrever que sonho com essas biografias das introduções dos livros, que desejo entrar na história da literatura - mania das grandezas, ou o nome clínico que dão a isso e que agora não me ocorre, ah, megalomania - mas apenas me lêem os próximos e chegados, companheira, um ou outro membro da família e, como já disse, pouquíssimos amigos. Como sei que isso é impossível, entrar na história da literatura, muito mais agora do que antes - como muitos, sinto que cheguei tarde demais - umas vezes conformo-me outras deprimo-me. Sei que não prestam, os meus poemas, textos, contos, pequenos ensaios. Há poetas sem qualidades, é verdade, mas mesmo esses ainda se podem adjectivar de qualquer coisa, eu não - exemplo disso foi o juízo dos júris dos prémio Agustina Bessa-Luís e Teorema/FNAC. Nas margens habito as suas orlas. Sendo eu um devir, estou já no devir-imperceptível sem ter passado pelos outros teorizados por Deleuze e Guattari. Por isto e pelo que vem, peço emprestada a voz de António Gancho:

Donne moi ma chance

benjamim machado

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