domingo, 16 de junho de 2024

primavera

a tília abriu-se
juntou-se às noites

de jasmim e sabugueiro e o lírio
d’água saiu do seu sonho de lama

os gansos voltaram das suas estâncias
as searas fartas sangram o seu ópio

e por todo o lado as gargantas melodiam
o inalcançado por Messiaen

os céus de Friedrich fecham-se com volúpia
enegrecem o rio e o olhar que por ele entra

a cicatriz de luz
corre a redoma que nos protege

é isto afinal a primavera
a beleza aterrorizando o corpo

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