sexta-feira, 17 de novembro de 2023

Longo cai o crepúsculo

longo cai o crepúsculo
e partem gansos para longe

macula-se a vista
de indiferença        a luz não se abre
entre as sombras nada se recorta
do fundo        na hora mais clara
do anonimato
um coração apazigua a sua sordidez e dá-se
para a comunidade dos que estão sós
como penhascos numa tempestade
o escuro avança
contra o corpo
as andorinhas e os morcegos trocam os seus turnos
o pinheiro enegrece junto ao trevo e a terra
distila o silêncio que te faz nome

longo cai o crepúsculo
e a torrente da memória engolfa
o caminho        é quando as decisões dão 
ares de juiz e algoz e este ganso
estaca o passo pelo campo
e pergunta pelo fio do rumo

(os dois primeiros versos são retirados, com uma ligeira alteração, de um poema de José Manuel Teixeira da Silva. é-lhe assim, este poema, dedicado)

1 comentário:

Schweiz disse...

Sua postagem é uma obra-prima brilhante! Esclarecedora, bem articulada e verdadeiramente valiosa. Obrigado por compartilhar sua perspectiva.