terça-feira, 17 de maio de 2022

notas sobre a vida que sai das areias

o que se ergueu, o que se derrubou, as ruínas que decalcam o rosto do que há são pobre oferta para isso. abre a porta, num gesto largo varres o cenário à soleira: um horizonte exasperadamente vazio. outrora não era de ouro. é velho o combate contra a beleza. é coetânea da vida a morte. foi dito: a volúpia de destruir é ao mesmo tempo uma volúpia criadora. há que um dia, então, esvaziar o vazio. sentas-te e pensas: quero deixar qualquer coisa que valha a pena, que habite a memória como um luxo, um líquen num tronco lucrando um e o outro do encontro. não saberás quando a morte se fará a derradeira após tantas pequenas. escolhe, então, bem, de entre as poucas palavras que te couberam, as que tocarão isso.

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