havia quem, um dia, incapaz de se erguer, dava conta do seu esvaziamento, a ausência da sua coluna vertebral. suspendiam a sua tarefa e, com medo e espanto, quase pânico, de rosto caído sobre si, a angústia tomava-lhes as mãos, guiando-as desde então. tornaram-se ocos de espírito. falavam de deus e estavam ocos. falavam de amor, empatia e estavam ocos. falavam, falavam. enchiam-se de deserto. resvalavam na destruição da sua singularidade com a escultura da identidade. entravam no reino da mesmidade e perdiam-se com o esvaziamento e a aglomeração de areias. tu caminhaste a seu lado. eras um estranho entre eles. seguias pelas mesmas ruas, privaste os mesmos espaços, as suas casas, o seu pão e lume. tu eras um estranho entre eles. a neve assentava já na tua língua e ninguém via o brilho do deserto no teu peito escuro. à sua mesa eras um estranho e escolheste o exílio para abraçares essas areias.
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