terça-feira, 23 de novembro de 2021

Mario Benedetti - Quero-te sem olhar para trás/Te quiero sin mirar atrás

Quero-te mansamente, entre as sombras das falsas ilusões.
Quero-te para te ler em cada noite, como o meu livro favorito quero ler-te, linha a linha, letra a letra, espaço a espaço.
Quero-te para segurar a tua mão debaixo do firmamento e mostrar-te os amo-te escondidos entre as estrelas.
Quero-te sobre as folhas de outono, falando de nada mas por vezes de tudo e, num salto de loucura, beber as tuas lágrimas enquanto desfaleço nos teus lábios.
Quero-te para te encontrar nas frases não ditas, entre os pensamentos enterrados, entre as maneiras complicadas encontrar-te e depois não te deixar.
Quero-te como que para te levar aos meus lugares favoritos e contar-te que é aí onde me sento a procurar-te na névoa de olhares que não são teus, mas mesmo assim te procuro.
Quero-te para nos endoidecermos de riso, bêbados de nada e passear sem pressa pelas ruas, assim mesmo, seguros pelas mãos, melhor dito, pelos corações.
Quero-te para curar-te e curar-me e curarmo-nos juntos, para trocar as feridas por sorrisos e as lágrimas por olhares, onde poderemos dizer mais que palavras.
Quero-te pelas noites em que faltas, quero-te para escutar o teu riso toda a noite e dormir no teu peito, sem sombras nem fantasmas, quero-te como para não mais te soltar.
Quero-te como se quer a certos amores, à antiga, com a alma e sem olhar para trás.

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