sábado, 23 de outubro de 2021

O trabalho e as noites (v)

homens e anjos celebram a violência
conhecem a morte com o deitar-se

mas é do lado da mulher o combate
pela vida         planeia cuida sonha
aplana a terra para o ninho
acerca o informe ao lume
acolhe-se para duplicar a morada que é

eu vi o seu esforço e a sua força antiga
fui testemunha dos gritos do amor pelo esperado
recusando o pão a fruta
recusando a água         o corpo
não tocou o seu descanso

caminhámos pelas traseiras e
os campos das casas sabendo-o perto
quanto a dor rondando

raiz funda quebrando a pedra

à meia-noite cedeu ao sismo e as réplicas
agitaram a água e o sangue

guiou a respiração pela descida como se trepasse
ansiosa ao encontro da esperança

num urro quase uivo jorraram as águas

Sem comentários: