A ferida zona selvagem de Morris Graves
não é o mesmo oeste selvagem
que o homem branco encontrou
É uma terra onde chegou o Buddha
vindo de uma outra direção
É um selvagem ninho branco
na verdadeira loucura introspetiva
do Norte
onde os ‘falcões do olho interno’
mergulham e morrem
vislumbrando na sua queda fatal
toda a memória existencial
da vida
e com uma grave asa de giz
desenha no céu plúmbeo
um milhar de tecidas imagens
de voo
A noite é o seu ‘habitat nativo’
estes ‘pássaros espírito’ com brancas asas sangradas
estes bandos de tarambolas
águias barbudas
pássaros cegos a cantar
em campos de vidro
estes cisnes lunáticos e gansos extasiados
garças presas
corujas de carvão
símbolos de tartarugas a trotar
estes peixes rosa entre montanhas
picanços à procura onde nidificar
drones de peito branco
acasalando no ar
por entre luas alucinantes
E um pássaro mascarado a pescar
num riacho dourado
e um íbis a comer
‘do seu próprio peito’
e um púca de Connemara
(tamanho real)
E depois esses mudos pássaros soprados
carregando peixes e mensagens em papel
entre dois regatos
de esquecimento
onde a imaginação
virando-se para si
com uma branca e elétrica visão
se reencontra ainda louca
e por ser alimentada
entre as hébridas
in Lawrence Ferlinghetti, A Coney Island of the Mind, New York, New Directions, s.d. (1958): 25-26.
Sem comentários:
Enviar um comentário