quarta-feira, 14 de julho de 2021

a madeira das coisas

isto é também história         madeira empilhada
exalando ao sol a secura
sangrando resina e lentamente
confessando ao ouvido curioso de insetos
como é ser-se cidade
resignada à beira de um caminho
por visitar
como um pai no asilo
exilando-me da sua memória

na passagem sucessiva dos dias
a outros o teu corpo irá
cinzentar raízes         disso
nada saberá        mesmo gravado
como memento nas rugas de cascas 
                     nada lhe será revelado quando
num instante         vindo aos seus lábios
incerto          o teu nome caído          num doce
fio de baba                               de um arquivo
como se nomeasse
uma criatura dos primeiros dias         depois
repetindo com o ar sorvado
na mecânica das coisas de todos
os corpos
para confirmar o esquecimento
para confirmar 

                       recordo        foi de pinhos o seu cheiro
                                    trago a lembrança junto ao nariz
para iludir o aroma pungente
de urina que se entranhava como sândalo
enquanto cumpria         bem mais que uma testemunha 
                             o pôr e depor das máscaras ofertadas

é triste a madeira das coisas
empilhada para poemas

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