enquanto espero corvos e pombos
fazem escala aos meus pés forçados
aos restos e migalhas da convivência
conhecem bem a despedida a inexorável
pacífica passagem do tempo
ora se riem das nossas goradas tentativas
de controlo na multiplicação
de máquinas que nos encarrila
ou de nós mofam quando tudo procuramos
para suspender num sonho de juventude
e caminham tão verticais quanto nós
perscrutam-nos atentos à lenta
decadência do ser humano
talvez tenha existido num presente longínquo
uma reconfortante névoa
envolvendo todos em sentida emoção
derrotando uma bestial e cega ameaça
depois assoberbados pela inutilidade vindo
desse fim possuí-mo-nos de inveja
e mudando-se o vento esvaiu-se
o amor por tudo o que era vivo
é com desgosto que pousam
nos fios ramos no ar
eu lamento o que fizemos
o voto ao exílio a infecção da casa
e deles recebo o melancólico
canto de esperança
de que um dia voltemos
a
escutar a canção da terra
Sem comentários:
Enviar um comentário