quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Galway Kinnell - O chamamento através do vale do não saber (cont.)

3

E no entanto penso
deve ser a ferida, a própria ferida,
que nos permite saber e amar,
que nos força a alcançar o nosso desajuste
e por uma espécie
de poesia da alma, aperfeiçoar,
por um momento, a completude o Grego bêbado
extrapolou da sua coxa
ou flagelou de um coração esvaziado,

essa concumbência,
mais pura e trágica, estranhos
abraçados num só, um momento, do seu momento na terra


4

Ela que se deita meio
a meu lado – ela e eu uma vez
vimos as abelhas, ainda não sonhadores
mergulhados nos ácidos
da ânsia por qualquer coisa, ainda não queimados a moscas, sugando
o pó-desabrochado
da pereira em flor,
os dois
deitados juntos
debaixo da árvore, na terra, ao lado das nossas roupas vazias,
os nossos corpos abertos para o céu,
e as flores cintilando no céu,
boiaram até ao chão
e as abelhas cintilaram nos botões
e os corpos dos nossos corações
abriram-se
sob o conhecimento
de árvore, na relva do conhecimento
de campas, e entre as flores de flores.

E o cérebro continuou a florescer
através de todo o corpo, até que os ossos podiam pensar,
e os genitais emanaram onda atrás de onda de desejo sagrado
que até mesmo as células cerebrais mortas
se ergueram e se sentiram fantasias andróginas, quase divinas –
e compreendi
o falo do unicórnio poder-se-ia ter levantado, afinal,
directamente saído do próprio pensamento.


inn Galway Kinnell, The Book of Nightmares, Boston & New York, Houghton Mifflin, 1971: 58-59.

Sem comentários: