quarta-feira, 12 de setembro de 2018

o sorriso aos pés da escada (10-09-1979 - (...))

aos 39 digo hop lá! estamos vivos!
não sem alguma surpresa          pensei que ficasse
pelo caminho lá nos idos 25 ou 28

olho as melenas brancas
da minha mãe e sei         uma ou outra
tocaram a prata pela via das preocupações
que eu dei         só de vez em quando lágrimas
agora que me ausentei pela linha do horizonte
da europa         no olhar alheado do meu pai
pergunto-me por onde pairo
em que loop nos labirintos de pedra
do seu cérebro aguardo a sua visita
e se aos 39 serei uma criança

estou vivo e atento à vida
por exemplo         lá fora escuto uma mulher
que geme de prazer pela penetração
a respiração lenta da serra enovelada
em mantas         os gritos de noitibós
e o tilintar teimoso do mosquito na janela
em busca de uma saída deste inferno do homem
que a há um pouco adiante por uma frincha
nessa abertura inclinada da realidade

este prazer não nega a imensa dor que me gela
o coração a cada dia entrando pelos olhos
a dentro         tenho uma sombra no pensamento
percebem isso         o prazer que me enleva é assim
como o sorriso esgarçado de Maldoror
estou vivo e amo e celebraria a vida
mesmo se o meu amor e paixão fossem só por
isso que é a vida         até à última 21ª grama
serei um palhaço subindo lentamente
a escada do tempo e do sentido

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