sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Fiz uma fogueira de assassinar o Pai

«(...)'Descobri que a única coisa que me interessa a fundo é escrever, o resto é vivido por causa disso. Ou seja, tudo o que me interessa a fundo é viver, o resto vai ser escrito por causa disso.' Pensei que estivesse a gozar comigo, mas ela sentou-se na borda da cama e explicou que um dia antes comprara as obras completas de Camilo Castelo Brancoe empilhara esses livros todos na lareira e lhes tinha largado fogo. A chaminé estava suja, as chamas subiram muito alto e houve um fogo na chaminé. Quando os bombeiros quiseram saber o que tinha sido queimado na lareira, ela - parait'il - respondeu qualquer coisa como 'Fiz uma fogueira para assassinar o Pai.' 'O quê?' perguntou o bombeiro. 'O velho Karamazov, meu velho', disse ela.»

in Nuno Bragança, O Riso e a Noite, Moraes Editores, col. Círculo de Prosa, 1ª edição, 1969: 279-280.


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