domingo, 30 de abril de 2017

Sylvia Plath - Uma Vida


Toca-lhe: não vai encolher como um olho,
Este bailio oval, claro como uma lágrima.
Aqui é amanhã, o ano passado –
Distinta lança de palmeira e lilás como flora na vasta
Fechada trama de uma tapeçaria.

Risca o vidro com a tua unha:
Irá sibilar como um carrilhão chinês à mais leve agitação do ar
Embora ninguém aí olhe para cima ou se preocupe em responder.
Os habitantes são leves como cortiça,
Cada um deles permanentemente ocupado.

A seus pés, as ondas do mar curvam-se numa única fileira.
Nunca entrando em mau humor:
Suspendendo a meio do ar,
Rédea-curta, empinando como cavalos de parada.
No alto, as nuvens assentam franjeadas e extravagantes

Como almofadas Vitorianas. Esta família
De rostos enamorados poderão agradar um colecionador:
Soam a verdadeiros, como boa porcelana.

Noutros lados a paisagem é mais sincera.
A luz cai sem pausas, cegando.

Uma mulher arrasta a sua sombra num circulo
Em torno de um pires calvo de hospital.
Faz lembrar a lua, ou uma folha em branco
E parece ter sofrido um espécie de ataque relâmpago privado.
Ela vive em calmamente.

Sem ligações, como um feto numa garrafa,
A casa obsoleta, o mar, aplanado a uma imagem
Ela tem demasiadas dimensões onde entrar.
Mágoa e raiva, exorcizadas,
Deixem-na em paz agora.

O futuro é uma gaivota cinzenta
Palrando na sua voz de gato de partida, de partida.
Idade e terror, como enfermeiras, tomam conta dela,
E um afogado, queixando-se do grande frio,
Rasteja para fora do mar.

in Sylvia Plath, Crossing the water - transitional poems

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