quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Ménada

Uma vez fui ordinária:
Sentada à beira do feijoeiro
Comendo os dedos da sabedoria.
Os pássaros deram leite.
Quando relampejou escondi-me sob uma pedra plana.

A mãe das bocas não me amava.
O ancião encolheu até ser uma boneca.
Oh sou tão grande para voltar atrás:
Leite de pássaro é penas,
As folhas do feijoeiro são mudas como mãos.

Este mês é feito para pequenos.
Os mortos amadurecem nas videiras.
Uma língua rubra está entre nós.
Mãe, afasta-te do meu celeiro
Estou a tornar-me outra.

Cabeça de cão, devoradora:
Alimenta-me com bagas das trevas.
As pálpebras não se fecham. O tempo
Desencorda-se do enorme umbigo do sol
As suas intermináveis cintilações.

Eu devo engoli-las todas.

Senhora, quem são aqueles outros na cuba da lua –
Bêbados de sono, os seus membros ao acaso?
Nesta luz o sangue é negro.
Diz-me o meu nome.

in Sylvia Plath, Crossing the water - transitional poems

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