não te aproximes demasiado
destas águas escorrendo lamacentas
por elas cruzam a obra do homem
e a cada vez a terra é galgada pela luxúria
e o suplemento
a queda é vertiginosa
dois três passos e és sorvida
pelo depositado lentamente no fundo
raízes troncos restos de vida
o vidro o plástico o ferro
outras obras desnecessárias
um poema
uma carta ao pai pedra para
saltar
na superfície quando nela nada
passa
um olhar perdido no que passou
e verteu amargura nos dias vindouros
um suicida eufórico cães ledos correndo
pela areia fora em saltos
luminosos com o seu pêlo negro
as mãos doadas inoculando o doce
no coração amargo levado pelo olhar
ao redor tudo é aquoso
do céu ao rio e ao teu rosto
um tempo líquido que nos enleva
este e já nenhuma falua nos torna
até belém a mentira da inocência
já não encontra morada
na boca que fazemos aqui desenraizados
quanta terra há a percorrer
erigimos uma casa na solidão aguardando
uma visita e ninguém se aproxima destas águas
Sem comentários:
Enviar um comentário